EUDES CHAGAS

Eudes Chagas, era um homem negro, sacerdote do candomblé, filho de Ogum, nascido em Água fria,  zona norte do Recife, nos anos 1920, mudou-se para na comunidade do Bode, no Pina, onde fez seu terreiro.

Eudes adoeceu aos treze anos de idade, sem conseguir diagnosticar sua doença. Família de origem católica

Uma tia, no entanto, o levou a uma pessoa que possuía dons mediúnicos e trabalhava com o Caboclo Daniel. Segundo oCaboclo, seus problemas eram ocasionados por dois “africanos” que o acompanhavam e ele precisaria ser levado a um terreiro de Xangô. Foi essa mesma tia quem o levou, nos meados da década de 1930, ao terreiro de Dona Santa, sede do Maracatu Nação Elefante, que se encontrava fechada, na época, devido às perseguições policiais sofridas pelos cultos afro-brasileiros, principalmente durante o Estado Novo.

Dona Santa fez então o “batismo” de Eudes no Xangô, em dia de “toque de maracatu”, durante o primeiro ensaio do Maracatu Elefante, recomendando-lhe que seguisse a seita. Ele seria acompanhado pelos orixás Ogum e Xangô.

Foi o rei do Maracatu Porto Rico do Oriente, grupo que fundou em 1967 e o articulou até o fim de sua vida, em 1978. Seu maracatu obteve certo destaque no Recife, sobretudo nos anos 1970, quando conseguiu figurar nas páginas dos jornais recifenses.

No dia 10 de outubro de 1938, Eudes (com dezessete anos), Dona Santa, Aluísio Gomes e José Cabral, apesar de toda perseguição policial, fundaram a Troça Carnavalesca Mista Rei dos Ciganos, que no carnaval sairia durante o dia e no resto do ano promoveria festas dançantes em louvor às divindades negras, assegurando dessa forma que o culto continuasse atuando disfarçadamente, evitando a repressão da polícia. A Troça logo se filiou à Federação Carnavalesca Pernambucana, que havia sido criada em dezembro de 1936.

A primeira festa dos “santos” foi realizada no mês de dezembro de 1938, com um baile dedicado a Orixalá, com todos os participantes vestidos de branco. Era necessário que a verdadeiro objetivo da troça fosse mantido em segredo.  Assim, a Troça Rei dos Ciganos, cujo principal patrono era Ogum Guerreiro, conseguiu festejar, disfarçadamente, durante quinze anos todos os orixás africanos.

Eudes resolveu posteriormente transformar a Troça Rei dos Ciganos, no Maracatu Porto Rico do Oriente, mas um grande número de pessoas quis continuar com a Troça, que continuou existindo mesmo após a criação Maracatu.

O Maracatu Porto Rico do Oriente foi inaugurado no dia 26 de março de 1967, com sede no bairro do Pina e a coroação de Eudes como seu rei ocorreu no dia 10 de dezembro de 1967, na Casa 41, do Pátio do Terço, sendo presidida pelo bispo da Igreja Católica Brasileira Dom Isaac.

Eudes atuou como rei, babalorixá e diretor do Porto Rico do Oriente de 1967 até 1978.

Era muito estimado por sua generosidade, sempre oferecendo ajuda para  dezenas de afilhados e pessoas necessitadas, assim como às pessoas que lhe procuravam para rituais e consultas no seu terreiro. Era solidário também com outros grupos carnavalescos, mesmo os possíveis rivais. Treinou o maracatu estudantil Rei do Congo, mesmo estando com problemas de saúde após sofrer um  derrame cerebral.

José Eudes Chagas, o Rei do Maracatu Porto Rico do Oriente, morreu no Recife, em 15 de dezembro de 1978.

Apesar de não ter sido realizada  em uma igreja, a coroação de Eudes Chagas foi um acontecimento que legitimou o rei, dando-lhe capital simbólico para se posicionar diante dos demais grupos. O processo de legitimação culminou com a vitória do Porto Rico do Oriente no concurso carnavalesco de 1968, o que foi bastante criticado principalmente por Luiz de França, que alegou arbitrariedade tomando como base as regras que normatizavam o concurso carnavalesco. Segundo Luiz de França, o Porto Rico do Oriente não poderia ter sido campeão, pois era o seu primeiro ano de desfile após sair do museu.

Eudes Chagas é reivindicado como o continuador de Pedro da Ferida, ambos se constituem na história da atual Nação Porto Rico.

Fonte: Memórias de Eudes Chagas: passado e presente de um rei maracatuzeiro no Recife dos anos 1960 e 1970. IVALDO MARCIANO DE FRANÇA LIMA*